segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sentimento-pele

Há coisas que se colam e não desgrudam.
Finge-se que está tudo controlado, a sentir o gozo dentro de nós, tentando esconder o que o corpo inteiro denuncia, oscilando entre o real e o ilusório.
Apaixono-me por ideias, por pessoas e, ás vezes, faço uma confusão danada e apaixono-me por ideias de pessoas. Todos os dias, de manhã à tarde e à noite.
Singular e banal, timido e descontraido, vivendo cada uma das coisas a seu jeito. Numa ampliação patológica e arrebatadora do outro. À custa da individualidade e da razão.
Diz que é meninice, pouco relevante a longo prazo. Não estou aí.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Opinião

As opiniões são como as vaginas.
Há quem tenha, quem não tenha, e dos que têm alguns resolvem dar e outros não.
As opiniões são sobretudo uma idealização que desejamos induzir nos outros, ou pelo menos uma pauta que os outros devem seguir. Nós próprios até, temos uma situação de dever para com as opiniões, sem no entanto agirmos de acordo com elas. Ainda que convictos, o que projetamos do nosso pensamento não tem tradução no “real”. Opiniões são ideias expressas e por isso têm um sentido de intencionalidade, ainda que apenas de representação.
As opiniões não produzem qualquer benefício nem qualquer dano, são por elas anódinas, estéreis, inócuas, abnóxias, um placebo… Pernicioso e infesto é a intolerância de quem receia as ideias.
A confusão e o conflito advêm da nossa relação com as nossas opiniões e as dos outros. Por vezes, ainda que na linha das opiniões haja tantos pontos e posturas diferentes, se por aproximação ou intuição se compreenda, ainda que não se satisfaça ninguém ou a maioria, posto que os extremos coincidam, o problema fica resolvido.
A partidarização então é um fenómeno tanto de agregação como de autonomia, estranhamente duas pulsões tão antagónicas em meio interno, que se confundem num simples ‘estás por mim ou contra mim’, ignorando todo o território médio. Tanto que discordo, desencaixo, outras que tento atafulhar coisas nos outros sem me aperceber desta realidade. Quando no fundo, de nada importa e a ninguém serve.
Entretanto, há o outro. As suas ideias, as suas projeções, a sua incapacidade sobre o que nada posso fazer. Da minha parte este é um banco neutro, terra de ninguém.
Quem se quiser sentar é bem-vindo.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cif Creme Micropartículas

Este é o produto por excelência preferido pelas consumidoras, dentro do segmento dos abrasivos.
Cif providencia enorme oferta de uma data de coisas que qualquer homem identifica apenas como sabonetes líquidos. Para uma mulher, isto não é um sabonete liquido, é uma paixão, um sonho, e embora ligeiramente mais caro que os seus similares de outras marcas, ganha a sua atenção porque além de garantir obra feita (promete deixar tudo limpinho), ainda se apresenta com fragância delicada e embalagem ergonómica.
Entre todos se destaca o Cif Creme Micropartículas. Superfície como tachos, capacetes, pias, barcos, bicos e banheiras… mais 1001 coisas, limpas por este sabonete produzido em Sacavém.
Naturalmente que Cif Creme Micropartículas não limpa absolutamente tudo. E que as suas propriedades adstringentes podem danificar superfícies sensíveis. Mas com uma fragância delicada e embalagem ergonómica certamente que será fácil de usar, ou pelo menos deixa a superfície estragada, mas perfumada.
Cif Creme Micropartículas encontra-se disponível em 3 versões (Clássico, Limão e com Lixívia), com fragância delicada e embalagem ergonómica.
O clássico veste-se bem, é cavalheiro e até um pouco machista, vive com as coisas boas da vida, mais aplicável a pias e banheiras, superfícies de cozinha, pouco dado a ambientes exteriores, com aroma básico sem ser desagradável.
Limão, é uma versão apaneleirada (metrossexual vá...) do clássico. Cheira melhor para no fim fazer igual ou menos.
O com lixivia é um pouco mais bruto, mas garante a maior eficácia. Potente em casa e fora dela, tem o inconveniente de não poder usar-se em superfícies sensíveis como plásticos moles ou mobília, e deixar manchas em roupas e carpetes.
De qualquer modo, são úteis independentemente da sua versão porque lavam tudo incluindo sujidade e gorduras várias. (Sugiro ainda assim que não se lavem com isto.) E estou cada vez mais certo de que uma fragância delicada e uma embalagem ergonómica tornam qualquer coisa minimamente útil numa paixão.
Como curiosidade apenas, Cif apresenta-se sob vários nomes como JIF, VISS, VIF e VIM, por razões fonéticas e de marca registrada. Cif, escolha o seu:
  • Cif Lava Tudo (Clássico, Montanha, Limão Vinagre, Marine, Sabão Natural e Madeiras)
  • Cif Creme (Clássico, Limão e com lixívia)
  • Cif Spray Power Cream (Desengordurante, Casa de Banho e com lixívia)
  • Cif Toalhitas (Ocean, Limão e Laranja)
  • Cif Liquido, Cif Gel, Cif Spray, Cif Inox, Cif OxyGel, Cif Actifizz…

terça-feira, 31 de julho de 2012

Desperdício de Insight

Quando compreendemos e não sabemos, não somos capazes de dar forma, rosto, agir em concordância.

Dissolução

Desejo. O que quero é difícil de exprimir. Não que seja volátil, mas a sua concretização é em permanência uma névoa. O desejo permanece no campo da afetividade e não tem relação com o real exceto através de nós, talvez por isso seja tão difícil assumir e depois não ser capaz de concretizar.
O mais perene, que a chuva me tocasse, para me fazer parte dela, de tudo ou ser coisa nenhuma.Que o acaso me levasse rapidamente e sem avisar, sem esforço, para o lugar que é meu.
Infelizmente, o desejo de pouco serve, e em pouco resulta ou se aprecia; somos nós a definir continuar na névoa ou encontrar a solução. Quero ser mero soluto, inerte por si próprio, mas ao cair da chuva dar-lhe propriedade, finalidade e sentido.
Ninguém o fará por mim, ninguém me trará a (dis)solução que desejo. Porque o desejo de pouco serve.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Perda Concretizada

Toda a história tem pelo menos duas história.

Perante factos irrefutáveis, diversas interpretações reais contam o que ocorreu. Nenhuma delas agarra toda a envolvência, ainda que nenhuma seja falaciosa. As várias histórias de uma história, retratam por si uma pequena e a mais importante parte para o observador, faça ou não parte da mesma.

Existe a minha história; e existe a outra história.
Ora a minha história tem sempre tempo de ser recontada, reescrita... tenho até ao último momento de vida a oportunidade de interpretar de forma diferente a minha história, assim o queira.
A outra história é muito mais importante.

Na outra história, só outro a poderá reescrever mais tarde. Na outra história o tempo escorre mais depressa, o espaço é curto, e a significância cristaliza sem nossa intervenção.
A outra história é sem dúvida mais importante. A outra história deveria ser o nosso foco primário de atenção, a primeira a compreender, a viver, a entender, e riscar um pouco até. A nossa história de pouco vale, a nossa história devia ser a outra história. A nossa história chega a ser perversa e vazia, quando não compreende que o prioritário, é a outra história.

Perde-se quando não se vive na outra história.
Deteriora-se, desgasta-se e deixa de existir parte importante de nós, a parte que corresponde à outra história. Uma lacuna, uma falha. Algo que mais ninguém pode sentir, tal sentimento de vazio. A noção de estar privado de algo que se tem, ou que não se tem até... Não se está na outra história, ninguém estará na nossa.

Perde-se, quase em continuo ao longo da vida. Coisas pequenas, e coisas grandes, cada um de nós.
A perda é um constante, na palavra dita, na ação que ficou por realizar, que nos retirou algo, ou que alguém veio retirar.

Há quem lhe chame crescimento. Talvez faça parte do processo, mas não me parece nada.
Cada história tem duas histórias.

"Vem rastejar, que te faz bem!
Implora porquês que eu não vou responder
Geme a chorar, que te faz bem,
Sangra o teu mundo só para eu ver
(...)
Sacrifica o teu ar, que te faz bem,
Sufoca entre panos vestidos de azul
Tortura os teus olhos para veres bem,
Que arranhas a voz em tosses sem som.
(...)
Só quando o sol te comer a pele
E o luar te roer a alma
Na lama que te arranca as asas.
Quando fores ave amarrada
Vais voar no meu céu negro
vais ser nada..." T

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Amor Ofensivo

Necessitamos de afeto. Aparentemente é tão necessário à sobrevivência como qualquer outra das necessidades. Sentir-se amado, nutrido, acarinhado é fulcral para qualquer individuo, é o que lhe permite explorar e vivenciar o mundo.
Ocorre no entanto, que não é uma exigência que possamos fazer uns aos outros. Não podemos forçar a que nos ofereçam o afeto que desejamos.

O afeto é de quem o nutre, de quem o partilha com o outro, na tentativa de fazer o seu mundo melhor.
"Gosto de ti, e espero que isso te faça sentir melhor."
E acontece. Ser amado é útil. Ser amado é receber uma dose de confiança, de valor de nós próprios.
Pelo contrário, a desnutrição afetiva estenosa a capacidade de cumprimento da pessoa.

Muitas vezes ocorre de forma unidirecional. Aliás, sou capaz de dizer que sempre é unidirecional, calha é algumas que seja recíproco.
Ainda assim, ferimo-nos quando ama-nos e não recebemos o mesmo. Eu também; mas ficam a palpitar-me uma dúvidas...

Se ser amado é uma necessidade, como podemos criticar os que o utilizam sem reciprocidade?
Ou como podemos recusar, ainda que não possamos devolver?
Usamo-nos uns aos outros? E isso, é censurável?
Utilizar algo que nos é util e que é em si mesmo e à partida uma dádiva?
Porque nos sentimos ofendidos então?

Tudo Leva a Concluir

A Negação é a tentativa de não aceitar na consciência algum fato que perturba o Ego. A fantasia que certos acontecimentos não são, de fato, da maneira que são, ou que na verdade nunca aconteceram. O observador objetivo tende a olhar com sensação de absurdo esta incongruência, ainda assim, este mecanismo destina-se a proteger o Ego estando bem presente nas pequenas e grandes coisas da vida.
Negação é auto-defesa. O que nos agride foge da memória bem mais lesto que o que nos agrada... Ainda assim, entre os mecanismos de defesa, será por ventura o menos eficaz.

Apesar da afetividade num contexto, não encontras lugar, nem inventas tempo para aprofundar o que quer que seja. Sempre há alguma coisa, cuja prioridade é superior ao que proponho. Coisa que acontece porque bem, repito-me, sempre há uma outra prioridade, mais prioritária, mais urgente, inadiável de momento.
Desejas qualquer outra situação, excepto esta que me aproxima, não posso, e não me é permitido, fazer parte desse mundo privado.

Tudo me leva a concluir, que esta é a realidade partilhada. A minha (realidade) engasga no mecanismo mais básico de defesa, porque não quero, porque não desejo esta conclusão; lá vou procurando dar outro significado, encontrar outra justificação para lá do evidente.

Tudo me leva a concluir, mas decido que nada concluo.

domingo, 15 de julho de 2012

Tive que roubar

ELOGIO AO AMOR - Miguel Esteves Cardoso in Expresso

"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

obrigado gm pois foi assim que encontrei.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sofrimento

Caminhamos através de um mundo inteiramente indiferente ao nosso bem estar, em direção à decrepitude e à certeza da morte. Carregamos com peso, dor, mágoa as emoções correspondentes a experiências negativas, qualquer destas na sua aversão, incluindo a subjectiva, geram sofrimento.

Há ainda quem o use como forma de redenção. Mortificando, penitenciando, expiando por motivo sobrenaturais, através de sacrifício, na procura de reparar as faltas passadas. Santifica-se, beatifica-se, deseja sentir o inferno para se regozijar no paraiso...
Como se fosse realmente possível reparar na exaustão um feedback negativo com outro positivo.

Por mim, de pouco serve. Convivia melhor com a raiva que pelo menos serve para alguma coisa.
E insultar é mais catártico que carpir.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Desenquadrado

Viveu Prometeu como um desafiante inferior à omnipotência de Zeus.
Titã, por vezes esquecido, mas em Atenas elevado à condição de semi-deus, por ter à sua responsabilidade as caracteristicas dos homens, por roubar o fogo divino.
Figura mítica, que serve para demonstrar a mistura do bem e do mal que existe na vida humana, o hábil por uns elevado aos deuses, e pelos deuses desprezado entre os homens.
Foi turturado por Zeus, mas nunca o venerou. Esquecido pelos humanos a quem a origem e o futuro devem.
Por vezes forte, bom, capaz. Outras fraco, ruim e vulnerável.
Um homem, um titã, e um deus menor.

"Encobre o teu Céu ó Zeus
com nebuloso véu e,
semelhante ao jovem que gosta
de recolher cardos
retira-te para os altos do carvalho ereto
Mas deixa que eu desfrute a Terra,
que é minha, tanto quanto esta cabana
que habito e que não é obra tua
e também minha lareira que,
quando arde, sua labareda me doura.
Tu me invejas!
(...)
Eu honrar a ti? Por quê?
Livraste a carga do abatido?
Enxugaste por acaso a lágrima do triste?
(...)
Por acaso imaginaste, num delírio,
que eu iria odiar a vida e retirar-me para o ermo
por alguns dos meus sonhos se haverem
frustrado?
Pois não: aqui me tens
e homens farei segundo minha própria imagem:
homens que logo serão meus iguais
que irão padecer e chorar, gozar e sofrer
e, mesmo que sejam parias,
não se renderão a ti como eu fiz" G

domingo, 17 de junho de 2012

Recuso

Achei que podia aceitar.
Não é meu. Abdicar das convicções e dos sonhos é mais agreste que as ofensas externas.
Achei que poderia relevar o que me ofende, mas recuso que no dia da morte me arrependa de não ter sido eu, de ter deixado outros escolher o meu caminho.
Não pode ser.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Três Golpes no Romantismo

Abnegação é palavra que nunca se tornou verbo conjugado na primeira pessoa.
Fazê-lo por imposição, por não vislumbrar alternativa, é o mesmo que desistir nestes olhos.

Porém, o sucesso, é o que os outros nos dão, é o mundo que nos atira. O reconhecimento dos outros.
O mundo dá-nos o que quer, o que lhe apetece, não o que desejámos ou pensamos merecer ou ser capazes.

Como é que um enorme ego, cujo sentimento de controlo é interno, se enquadra em tudo isto?
Este locus controlo seria uma vantagem para ultrapassar as adversidades, pensar que algo está à nossa mão de solucionar. Que os eventos resultam das suas ações.

Acabou a idealização de mim próprio e dos outros.

Embora pareça ser uma solução para evitar as adversidades, a inteligência social não é o meu forte.


Sinto o lugar de controlo a deslocar-se de mim para fora. O mundo pode oferecer-me luxo, ou lixo, de forma independente da minha vontade.

O que vier, aceita-se.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Grito

Nasceu de nove meses e parto dificil.
Tava com dificuldade em sair do conforto, presumo, e enfrentar o desconhecido. Ou então o choque com a realidade. É, é mais a segunda.
No momento em que se resignou a sair, por vontade e por necessidade, nem havia mais por onde encontrar espaço; esticou-se e gritou, tentou abraçar o mundo, mas mesmo já chorando e respirando, não escapou ao sopapo no rabo.

Até porque sopapos é coisa que está entranhada. A dada altura pode até não fazer sentido, mas o sopapo vai na frente, pelo sim e pelo não.
Aliás, NÃO, é palavra bem mais dificil, se bem que podia aliviar à partida quase todos os bebés chorões, giros e galantes que se aproximam seduzindo e requerendo o afecto, que no caso não retribuem.

Um NÃO bem redondo, bem redondo e bem desenhado claro está, serviria para clarificar, e também para afastar o indesejável. Seria a premissa da triagem. Dando o sopapo apenas aos que não berrem.

Parece-me pervertido desde o berço.
E claro está que nem por um pouco falei de um parto real, daqueles com mães e bebés e tudo...
Berro, e venham daí os sopapos. Os muros para escalar. Quantas vezes não são os meus próprios.

domingo, 6 de maio de 2012

Embaraço

O momento é sempre o mais despropositado. Quando definitivamente não queremos o embaraço, é quando o silêncio assambarca a situação. Nem sei como, nem porquê o desconforto, mas acaba-me o assunto.

Fito a maravilha, o espanto, toda a graça, perco a compustura. Fico passivo, distante, tentando disfarçar o semblante, tímido quando de ti estou junto. Podia escolher qualquer outra altura, outra situação qualquer... Mas é aí que me acaba o assunto.

Por certo parece incrível, que passe tamanho preparo...
Talvez esconda o bastante, para que o embaraço não se instale definitivamente. Na ânsia que me embala, contigo mais que muito, disparo qualquer triavilidade, alguma estupidez e banalidade porque me fazes perder o assunto.

Podia dizer o que sou, o que quero, o que desejo. Elevar-te ao pedestal em que te vejo. Não sou capaz, emudeço. Tanto por dizer, tanto por falar, fica na minha cabeça a engasgar, oprime o folgo, fecha-me a porta e acaba-me o assunto.

"Mas isto é um canto
e não um lamento
já disse o que sinto
agora façamos o ponto
e mudemos de assunto
sim?" SG

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Estupidez Épica

Tenho intenção de o dizer à eras. Tenho-me segurado, porém, sinto que agora é a altura certa.

Não prestas. Prometo que realmente não prestas. Tudo o que dizes é retardado. É como se o fizesses de propósito, simplesmente porque te agrada dizer merdas incorretas, sentares-te e ver a cabeça das pessoas explodir a partir da tua estupidez. És um parasita, a cada lugar que vais, destróis todos os neurónio usados pela humanidade para te entender, e depois de os destruíres, mudas de sítio para causar mais dano, até que todos os neurónios estejam efetivamente destruídos por ti, a imparável besta da estupidez. Ok, entendo que se fosse mentalmente diminuído como tu, faria a mesma coisa para diminuir a inteligência à minha volta até um ponto em que não me sentisse um excluído, mas FODA-SE, és um idiota!

Não consigo acreditar em quão estupido tu és. quero dizer. Estúpido como uma pedra bem dura. Estúpido como uma pedra dura e desidratada. Estúpido tão estúpido, que vai para além da estupidez que nós conhecemos para uma nova dimensão de estupidez. És trans-estúpido. Meta-estúpido. Estúpido colapsado em si próprio que até os neutrões colapsaram. Estúpido tão denso que nenhum intelecto consegue escapar. Singularmente estúpido. Sol quente flamejante de meio-dia em mercúrio estúpido. Emites mais estupidez num segundo que todo o universo num ano. Quasar estúpido. Tens que ser um Troll, ou outra qualquer criatura mística... Nada no nosso universo pode realmente ser tão estúpido! Talvez seja um fragmento primordial de estupidez do original Big-Bang de estúpido. Uma essência pura de uma estupidez tão incontaminada, tem que estar para além das leis da física que conhecemos. Desculpa, não consigo continuar. É uma epifania da estupidez para mim. Não tenho força suficiente que reste para lidar com as tuas questões ignorantes, comentários sobre merdas irrelevantes, ou tudo o resto que me apresentas.

Da próxima vez que questionares a opinião de alguém, observa as suas razões e não cries os teus miseráveis, injustificados, ilógicos e idiotas montes de merda a que chamas "razões" para o suportar.

Nunca ultrapassarei o embaraço de pertencer à mesma espécie que tu. És um monstro, um ogre, uma malformação. Vomito ao mínimo pensamento em ti. És tão atrativo como um corte de papel. Os leprosos evitam-te. És vil, imprestável, menos que nada. És uma erva daninha, um fungo, és a borra deste mundo. E já mencionei que cheiras mal?

Se não és um idiota, fazes um esforço imensurável em simular um. Tenta excluir o desnecessário do discurso com que tentas impressionar. A evidência de que és um estrume continuará acessível a todos, mas será mais rápido o seu acesso.

Sinto pena de ti. Talvez mais tarde na vida aprendas a ler, escrever, contar e consigas mais sucesso. É verdade, estas são ferramentas rudimentares que muitos de nós, pessoas "normais", temos como adquirido e nem para toda a gente é tão fácil dominar. Por vezes esquecemos que existem pessoas intelectualmente diminuídas neste mundo que encontram mais dificuldade. Se eu soubesse disto de antemão, nem sequer iniciava qualquer conversa... é como estacionar no lugar dos deficientes. Desejo-te a melhor sorte nas lutas emocionais e sociais, que parecem estar a causar-te tanta dificuldade.

Espero que isto ajude.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dentro de mim

Luz, calor, brilho, matiz.
Aconchego, conforto, afecto, gesto, toque, ternura...

Perdi.
Fiquei para lá do tempo. Esgotei a minha permanência.


"Sempre só mais um homem
Mais humano
Mais um fraco..
Sempre sou mais um braço
Mais um corpo
Mais um grito
Sempre..

Dança em mim!
Mundo, vida e fim!
Dorme aqui
Dentro de mim.." T

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O fim do mundo em 'pendant'

Não existe vida nem história sem objetos, dizem os antropólogos.
Objetos são muito mais simbólicos do que funcionais. Os objetos têm valor afetivo,
os objetos carregam escolhas. E por isso nos é tão dificil livrar deles...
São também um tipo de insegurança. Como se ela precisasse ter gasolina de reserva mesmo com o tanque cheio. São o amparo que resta, um último reduto.
Agora a sério, quem vive de história é museu!
Objetos sem utilidade ocupam espaço físico e mental e dificultam a organização das ideias. Quando o mundo me acaba, quando peste, guerra, fome e morte me anunciam o apocalipse já passou da hora de dar destino às coisas inúteis, ao lixo.


No pavoroso, lúgebre, medonho estado melancólico, quebram-se os objetos, arruma-se a casa e alinha-se o Fen Shui da coisa.


Muitas das decisões mais salutares, como as correspondentes à mudança e ao engrandecimento, só são efetuadas em momentos de tristeza, com primazia da clarividência e racionalidade. Quando focamos o fim. O equilibrio.


Não advogo com isto a negação das emoções, mas a consequências das mesmas, leva-nos na direção do nosso conforto, mesmo quando o desconforto está tão presente.


"Pode acabar o mundo, mas pelo menos combinem as cores!" EF

sexta-feira, 30 de março de 2012

Conflito

Destrutivo, violento, irracional. Ás vezes...
O conflito é um fenomeno subjetivo, muitas vezes inconsciente ou de difícil percepção. Surge quando há a necessidade de escolha entre situações consideradas incompatíveis. Um choque de motivos, ou informações, desencontradas.

As situações de conflito são antagonicas e perturbam a ação ou a tomada de decisão por parte da pessoa ou de grupos. Ainda assim, externamente, o conflito é sinal de vitalidade, motivação e criatividade.

Internamente, convergem forças de sentidos opostos e igual intensidade (os impulsos de separação, individualidade e autonomia e os impulsos de integração, comunhão e submissão, p.e.), por duas valências positivas, mas opostas, ou duas valências negativas.

Uma mesma ação pode ainda sofrer forças, uma positiva e outra negativa, ambas na mesma direção, escolhas que produzem algo que nos gratifica, mas também outro tanto que nos molesta.

Diante de um fato, podemos desejá-lo ou rejeitá-lo, fica na nossa vontade, na nossa liberdade. Mas quantas vezes abstemo-nos da vontade, suspendemos o nosso juízo.
Uma escolha severamente limitada ou artificialmente restrita leva ao desconforto com a opção selecionada e possivelmente a um resultado insatisfatório, mantendo o desequilibrio. Mas demasiadamente ampla, leva a confusão, indiferença.

Convido-te ao selvagem e ao incerto. Escolhe.

terça-feira, 20 de março de 2012

Arrebatamento

Prende, encanta.
Num estado emocional de arrebatamento intimo; embevecidos, assombrados, enlevados...
Trata-se de maravilha, magia, feitiço!


Fácil, e traiçoeiro.
Atrai, nada nos causa repulsa; o que fazer? Como destinguir?

Depois, quando (e se) passa, já são muitas as agruras que abrimos, em nós e naqueles que partilharam o mesmo extase. E na consequência, não há ninguém para quem chorar, nenhum sítio onde chamar casa.

Haverá outra forma de gerir o impulso, quando nos carrega, nos atordoa a racionalidade?


domingo, 11 de março de 2012

À espera não sei de quê

"Essa miúda é uma feiticeira,
prende-te a mente e põe-se a falar..
E tu bem tentas compreendê-la,
mas o que sai da sua boca
não parece condizer com o que ela
te diz com o olhar." JP

São meus iguais os que observo num rasgo, fugaz, de humanidade.
Outros usam da sua humanidade, para justificar as fraquezas, e desmesuradamente os atos.
Raro alguém que me toque no íntimo, no profundo, com a sagacidade em questão.

Revejo e reconto as minhas estórias passadas, futuras e paralelas, onde me reconheço com uma facilidade atroz. Dá medo, dá para incendiar toda a energia, ou para ficar absolutamente imóvel...

Talvez me ensine a partir, nalguma noite triste. Para já, fico.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Perdido no espaço-tempo

Grosso, egoista, pedante e prepotente.
Nada entra na minha bolha, sintese dos escolhos trilhados em solidão interna. Afasta.
Por quantos magoei à custa do meu desconhecido.

Não há nada aqui, mas o que há é meu.

Música de Filme

Algures, todos nos sentimos desconfortáveis. A meia do elastico frouxo que insiste em se enrolar no pé, ou, para as senhoras, as seis horas em cima do salto... Nesse lugar, algo não está bem e, embora possamos inumerar a razão para o sentirmos, nem podemos afirmar porque a situação nos é tão desagradável.

O desconforto não é apenas a negação do dito. É uma ofensa ao ânimo. Prende-se que nada que façamos nos retira da experiencia de desconsolo e desalento, por muito que se puxe a meio do elástico frouxo para o devido lugar, ou atiremos fora os sapatos de salto...
O desconforto continua solto no mundo.

Fujo a tudo que me causa desconforto, angústia, sofrimento porque não sei lidar com eles. Ofende a minha integridade, desbarata a sensatez, expõe a fragilidade. Tudo rebate então no peito, seja por fora ou por dentro, aprisionando o sofrimento para lá de mim; ou para cá de mim... Perda, fracasso e morte.

Levamos muitas coisas pela vida fora; resolvemos tristeza, frio, fome, raiva... Dentro de nós o conflito, o fogo o barulho e a noite, e o desconforto continua solto no mundo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Retorno à Inocência

2012 trouxe-nos, bem, não nos trouxe nada. Retirou-nos (à maioria de nós) alguma capacidade económica.
A desesperança alastrou-se mesmo aos mais optimistas, e é esta falta de visão e confiança no futuro que moi e angustia cada um de nós, toda uma geração vergada à negação dos seus sonhos e das suas capacidades.

O dinheiro, linguagem habitual do mundo, deixou para muitos de ser a forma de obter gratificação, pela sua escassês, por uma distribuição de riqueza que os desfavorece.
Não que o dinheiro tenha desaparecido, não que a linguagem universal tenha mudado, não que a maior preocupação se tenha alterado. Apenas, está nas mãos que melhor o conhecem, que melhor o entendem, e que dele menos precisam.

Eu entendo, e até balbucio umas coisas nesta linguagem, mas não é a primeira, a habitual, a materna. Andamos tão ocupados com esta, que nos esquecemos de falar na forma primordial, naquela que nos gratifica, acolhe e protege.

Então, re-olho para as suas dimensões, busco a oportunidade entre a dificuldade. Desejo e tenho esperança na redescoberta do que nos faz felizes, humanos, e do que nos esquece-mos com frequência.
Não precisamos do metal, do papel; que se torne evidente que na nossa meninice, não nos fez falta para correr, brincar e sorrir! Encontrar a felicidade no sorriso de quem se quer, no calor do companheirismo, da amizade e do enamoramento.

Nessa altura, a linguagem que compreendiamos era apenas a do afecto. Compreendiamos quando viamos tristeza, quando celebravamos realmente, quando nos emocionavamos intensamente. Desaprendemos?

O que é de mais básico, de mais visceral, intrinseco, passa a ser secundario, banal, ignorável?
Inserimos o cepticismo, a lógica, a responsabilidade e principalmente a dependência. Para nos tornar-mos aceitáveis, para vegetar-mos... É inacreditável!

Ai! como advogo o regresso à linguagem do afecto! Aquela em que hoje somos tão incompetentes...
Agarro a oportunidade para me envolver comigo e com os outros, pois do que careço é dos que me são iguais, o que me faz realmente falta é a linguagem perdida.

Quero regressar ao belo, ao mágico, ao milagre... à inocência.