terça-feira, 31 de julho de 2012

Desperdício de Insight

Quando compreendemos e não sabemos, não somos capazes de dar forma, rosto, agir em concordância.

Dissolução

Desejo. O que quero é difícil de exprimir. Não que seja volátil, mas a sua concretização é em permanência uma névoa. O desejo permanece no campo da afetividade e não tem relação com o real exceto através de nós, talvez por isso seja tão difícil assumir e depois não ser capaz de concretizar.
O mais perene, que a chuva me tocasse, para me fazer parte dela, de tudo ou ser coisa nenhuma.Que o acaso me levasse rapidamente e sem avisar, sem esforço, para o lugar que é meu.
Infelizmente, o desejo de pouco serve, e em pouco resulta ou se aprecia; somos nós a definir continuar na névoa ou encontrar a solução. Quero ser mero soluto, inerte por si próprio, mas ao cair da chuva dar-lhe propriedade, finalidade e sentido.
Ninguém o fará por mim, ninguém me trará a (dis)solução que desejo. Porque o desejo de pouco serve.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Perda Concretizada

Toda a história tem pelo menos duas história.

Perante factos irrefutáveis, diversas interpretações reais contam o que ocorreu. Nenhuma delas agarra toda a envolvência, ainda que nenhuma seja falaciosa. As várias histórias de uma história, retratam por si uma pequena e a mais importante parte para o observador, faça ou não parte da mesma.

Existe a minha história; e existe a outra história.
Ora a minha história tem sempre tempo de ser recontada, reescrita... tenho até ao último momento de vida a oportunidade de interpretar de forma diferente a minha história, assim o queira.
A outra história é muito mais importante.

Na outra história, só outro a poderá reescrever mais tarde. Na outra história o tempo escorre mais depressa, o espaço é curto, e a significância cristaliza sem nossa intervenção.
A outra história é sem dúvida mais importante. A outra história deveria ser o nosso foco primário de atenção, a primeira a compreender, a viver, a entender, e riscar um pouco até. A nossa história de pouco vale, a nossa história devia ser a outra história. A nossa história chega a ser perversa e vazia, quando não compreende que o prioritário, é a outra história.

Perde-se quando não se vive na outra história.
Deteriora-se, desgasta-se e deixa de existir parte importante de nós, a parte que corresponde à outra história. Uma lacuna, uma falha. Algo que mais ninguém pode sentir, tal sentimento de vazio. A noção de estar privado de algo que se tem, ou que não se tem até... Não se está na outra história, ninguém estará na nossa.

Perde-se, quase em continuo ao longo da vida. Coisas pequenas, e coisas grandes, cada um de nós.
A perda é um constante, na palavra dita, na ação que ficou por realizar, que nos retirou algo, ou que alguém veio retirar.

Há quem lhe chame crescimento. Talvez faça parte do processo, mas não me parece nada.
Cada história tem duas histórias.

"Vem rastejar, que te faz bem!
Implora porquês que eu não vou responder
Geme a chorar, que te faz bem,
Sangra o teu mundo só para eu ver
(...)
Sacrifica o teu ar, que te faz bem,
Sufoca entre panos vestidos de azul
Tortura os teus olhos para veres bem,
Que arranhas a voz em tosses sem som.
(...)
Só quando o sol te comer a pele
E o luar te roer a alma
Na lama que te arranca as asas.
Quando fores ave amarrada
Vais voar no meu céu negro
vais ser nada..." T

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Amor Ofensivo

Necessitamos de afeto. Aparentemente é tão necessário à sobrevivência como qualquer outra das necessidades. Sentir-se amado, nutrido, acarinhado é fulcral para qualquer individuo, é o que lhe permite explorar e vivenciar o mundo.
Ocorre no entanto, que não é uma exigência que possamos fazer uns aos outros. Não podemos forçar a que nos ofereçam o afeto que desejamos.

O afeto é de quem o nutre, de quem o partilha com o outro, na tentativa de fazer o seu mundo melhor.
"Gosto de ti, e espero que isso te faça sentir melhor."
E acontece. Ser amado é útil. Ser amado é receber uma dose de confiança, de valor de nós próprios.
Pelo contrário, a desnutrição afetiva estenosa a capacidade de cumprimento da pessoa.

Muitas vezes ocorre de forma unidirecional. Aliás, sou capaz de dizer que sempre é unidirecional, calha é algumas que seja recíproco.
Ainda assim, ferimo-nos quando ama-nos e não recebemos o mesmo. Eu também; mas ficam a palpitar-me uma dúvidas...

Se ser amado é uma necessidade, como podemos criticar os que o utilizam sem reciprocidade?
Ou como podemos recusar, ainda que não possamos devolver?
Usamo-nos uns aos outros? E isso, é censurável?
Utilizar algo que nos é util e que é em si mesmo e à partida uma dádiva?
Porque nos sentimos ofendidos então?

Tudo Leva a Concluir

A Negação é a tentativa de não aceitar na consciência algum fato que perturba o Ego. A fantasia que certos acontecimentos não são, de fato, da maneira que são, ou que na verdade nunca aconteceram. O observador objetivo tende a olhar com sensação de absurdo esta incongruência, ainda assim, este mecanismo destina-se a proteger o Ego estando bem presente nas pequenas e grandes coisas da vida.
Negação é auto-defesa. O que nos agride foge da memória bem mais lesto que o que nos agrada... Ainda assim, entre os mecanismos de defesa, será por ventura o menos eficaz.

Apesar da afetividade num contexto, não encontras lugar, nem inventas tempo para aprofundar o que quer que seja. Sempre há alguma coisa, cuja prioridade é superior ao que proponho. Coisa que acontece porque bem, repito-me, sempre há uma outra prioridade, mais prioritária, mais urgente, inadiável de momento.
Desejas qualquer outra situação, excepto esta que me aproxima, não posso, e não me é permitido, fazer parte desse mundo privado.

Tudo me leva a concluir, que esta é a realidade partilhada. A minha (realidade) engasga no mecanismo mais básico de defesa, porque não quero, porque não desejo esta conclusão; lá vou procurando dar outro significado, encontrar outra justificação para lá do evidente.

Tudo me leva a concluir, mas decido que nada concluo.

domingo, 15 de julho de 2012

Tive que roubar

ELOGIO AO AMOR - Miguel Esteves Cardoso in Expresso

"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

obrigado gm pois foi assim que encontrei.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sofrimento

Caminhamos através de um mundo inteiramente indiferente ao nosso bem estar, em direção à decrepitude e à certeza da morte. Carregamos com peso, dor, mágoa as emoções correspondentes a experiências negativas, qualquer destas na sua aversão, incluindo a subjectiva, geram sofrimento.

Há ainda quem o use como forma de redenção. Mortificando, penitenciando, expiando por motivo sobrenaturais, através de sacrifício, na procura de reparar as faltas passadas. Santifica-se, beatifica-se, deseja sentir o inferno para se regozijar no paraiso...
Como se fosse realmente possível reparar na exaustão um feedback negativo com outro positivo.

Por mim, de pouco serve. Convivia melhor com a raiva que pelo menos serve para alguma coisa.
E insultar é mais catártico que carpir.