quarta-feira, 25 de julho de 2012

Perda Concretizada

Toda a história tem pelo menos duas história.

Perante factos irrefutáveis, diversas interpretações reais contam o que ocorreu. Nenhuma delas agarra toda a envolvência, ainda que nenhuma seja falaciosa. As várias histórias de uma história, retratam por si uma pequena e a mais importante parte para o observador, faça ou não parte da mesma.

Existe a minha história; e existe a outra história.
Ora a minha história tem sempre tempo de ser recontada, reescrita... tenho até ao último momento de vida a oportunidade de interpretar de forma diferente a minha história, assim o queira.
A outra história é muito mais importante.

Na outra história, só outro a poderá reescrever mais tarde. Na outra história o tempo escorre mais depressa, o espaço é curto, e a significância cristaliza sem nossa intervenção.
A outra história é sem dúvida mais importante. A outra história deveria ser o nosso foco primário de atenção, a primeira a compreender, a viver, a entender, e riscar um pouco até. A nossa história de pouco vale, a nossa história devia ser a outra história. A nossa história chega a ser perversa e vazia, quando não compreende que o prioritário, é a outra história.

Perde-se quando não se vive na outra história.
Deteriora-se, desgasta-se e deixa de existir parte importante de nós, a parte que corresponde à outra história. Uma lacuna, uma falha. Algo que mais ninguém pode sentir, tal sentimento de vazio. A noção de estar privado de algo que se tem, ou que não se tem até... Não se está na outra história, ninguém estará na nossa.

Perde-se, quase em continuo ao longo da vida. Coisas pequenas, e coisas grandes, cada um de nós.
A perda é um constante, na palavra dita, na ação que ficou por realizar, que nos retirou algo, ou que alguém veio retirar.

Há quem lhe chame crescimento. Talvez faça parte do processo, mas não me parece nada.
Cada história tem duas histórias.

"Vem rastejar, que te faz bem!
Implora porquês que eu não vou responder
Geme a chorar, que te faz bem,
Sangra o teu mundo só para eu ver
(...)
Sacrifica o teu ar, que te faz bem,
Sufoca entre panos vestidos de azul
Tortura os teus olhos para veres bem,
Que arranhas a voz em tosses sem som.
(...)
Só quando o sol te comer a pele
E o luar te roer a alma
Na lama que te arranca as asas.
Quando fores ave amarrada
Vais voar no meu céu negro
vais ser nada..." T

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